Cabeça de empregado

Estou adorando acompanhar a gestão de João Doria na prefeitura de São Paulo (e sim, sei que tem gente que torce o nariz para isso). Mas o que vimos até agora – sim, também sei que são só dois meses – parece milagre. Ele é populista? Sim, um pouco. Precisava vestir a roupa de gari quando todo mundo sabe que isso jamais faria ele saber realmente o que é ser gari? Não. Mas funciona. E é isso que interessa.

Ele levanta a bunda dele e faz, e é isso que eu gosto nele. Ele não espera autorização de ninguém, ele não faz pesquisa para saber se pode, se não for ilegal, ele mete bronca. E essa é a cabeça, o modus operante, que estamos precisando ter no Brasil.

Sim, tem muita gente com essa mente mais “empreendedora”. Que faz, que tem a famosa proatividade. Mas a maioria ainda tem a velha e boa “cabeça de empregado”. Fazer só o necessário, que foi pedido ou mandado e passar o resto do tempo reclamando de como a vida é infeliz.

A maioria da população não faz o que ama no trabalho, 90% está infeliz com a posição que ocupa, mesmo que saibam que isso é, sim, de sua inteira responsabilidade. São cabeças guiadas pelo medo e que acabam culpando tudo: governo, chefia e até o sistema capitalista, para não precisarem se responsabilizar. E isso independe da posição que você tenha, se é um gari ou o CEO de uma grande empresa. A cabeça de empregado tem que sair.

O Brasil é muito guiado pelo arquétipo matriarcal, ou seja, aqui nós somos mais da manha, da emoção. Brasileiros não são frios, são quentes. Somos o país do Carnaval, mas a sombra disso tudo é uma malemolência, uma falta de ação. Somos bons em obedecer, mas não vamos além disso, o que faz o país crescer devagar e as pessoas ficarem sempre na mesma energia de “alguém precisa me prover”, como se fôssemos todos filhos de uma mãe com peitos enormes e cheios de leite.

Essa cabeça precisa mudar. E o João Doria, e tantos outros caras e mulheres com essa energia, estão aí para nos dar esse exemplo. De fazer pela gente, pelo nosso tesão. E se não estiver bom, planejar para mudar. Sempre tem jeito, sempre mesmo.

E isso exige muito esforço e energia. Conheci um jovem rapaz que trabalhava há cinco anos numa empresa, como um ajudante geral. Era um cara proativo, que sempre fazia mais do que era pedido, acreditando que seria recompensado por isso. Um dia, seu supervisor o chamou e pediu para que ele fizesse menos, porque estava ficando mal para os outros funcionários bebezões. Ele não fez menos e foi mandado embora. Isso foi uma benção (que ele ainda não entendeu) para que saísse daquela energia e fosse para um local em que possa ser valorizado. Mas é preciso ter a cabeça certa para entender essas coisas.

Então, que tal fazer? Que tal pensar e entender que sua infância acabou e é você quem precisa cuidar de si? A carreira é sua, independentemente do lugar onde você esteja trabalhando. Independentemente do plano de saúde que eles dão, da sua saúde você que cuida. Independentemente do fundo de garantia, da sua aposentadoria cuida você. É necessário entender que não precisamos de ninguém mandando quando prestamos atenção e quando estamos naquilo pra valer. É necessário entender que a coisa toda começa pela gente.

Eu vou continuar acompanhando João Doria, como uma gata escaldada, é verdade. Mas acreditando, sim, que essa energia pode contaminar a todos. Vamos torcer e fazer. Pelo Brasil e por cada um de nós!

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